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Efeitos dos Medicamentos

O fenómeno do agravamento é facilmente compreensível se recorrermos aos princípios que enformam a prática homeopática – § 157 do Organon: “ Um medicamento homeopático causa geralmente discreta piora imediatamente após sua ingestão e que dura de uma a algumas horas. Esta acção do remédio é tão semelhante à doença original que parece que o paciente piorou da sua própria doença. Quando a dose for excessiva, o agravamento poderá durar um número considerável de horas. O agravamento nada mais é do que uma doença medicinal externamente semelhante e que excede em potência a afecção original.”
É praticamente impossível que medicamento e doença se sobreponham, como sucede com dois triângulos com lados e ângulos iguais, e mesmo numa escolha criteriosa, podem surgir em certos indivíduos novos sintomas – que se graves e muito incomodativos terão de ser antidotados.

Na doença aguda, um suave agravamento homeopático, observado na primeira ou primeiras horas é sinal que a doença cederá – § 158 do Organon- É de referir que qualquer agravamento deve ser acompanhado de uma sensação de bem estar geral demonstrada pelo enfermo. Salienta-se que independentemente da agravação experimentada,  o quadro mental do paciente deve ser positivo e indicador de melhoras –.
Mas, a agravação homeopática não se constitui como fenómeno obrigatório, a menos que a doença seja grave.
No entanto, se o medicamento for mal seleccionado o doente poderá ter um alívio transitório dos sintomas, seguindo-se um intenso agravamento –  § 23 do Organon –.
Logicamente, quanto menor a dose mais moderado o agravamento –
§ 159 do Organon –.

Numa enfermidade de carácter lesional leve, o agravamento homeopático é de curta duração e bastante forte, limitando-se no caso de doenças agudas de instalação recente, à primeira ou primeiras horas – § 161 do Organon –.

Na lesional de certa gravidade, o agravamento aumenta na sua duração.
Nas doenças funcionais e de carácter incurável, Hahnemann considera que não se deverá verificar qualquer tipo de agravamento.

As doenças crónicas não são afectadas em geral por agravações drásticas, mas podem ocorrer abundantes eliminações.

Léon Vannier e Jean Poirier, consideram que o agravamento medicamentoso não se pode produzir, se não utilizarmos tinturas mãe, tivermos o cuidado de intercalar um dia de repouso de vez em quando – pode ser um dia por semana – no decorrer da administração de diluições médias, não repetir uma alta diluição antes que a sua acção esteja esgotada e por último, se garantirmos a drenagem perfeita do organismo.

Neste particular, damos agora em síntese, o procedimento homeopático tendo em vista as situações que ocorrem ou podem ocorrer na prática clínica, fundamentadas nas leis e teorias expendidas por Hahnemann, Boenninghausen, Hering, Kent e Gibson Miller.
Aproveitamos para relembrar o método que conduzirá fatalmente à análise do caso concreto – as anotações que se seguem, não substituem o que se escreveu em sede de Interrogatório e Exame, mas completam-no –.

PRIMEIRO CONTACTO COM O DOENTE

Nome, endereço, telefone.
Idade.
Trabalho.
Casado, viúvo, solteiro ou divorciado.

Cor dos cabelos e dos olhos.
Cor do rosto, tez.
Mencionar todos os traços particulares do paciente quanto à sua aparência, forma, aspecto, tamanho, etc.
Altura e peso.

Causa da morte dos familiares mais próximos ou afastados, tanto do lado paterno quanto materno, ou ainda as doenças crónicas que apresentaram durante as suas vidas: tuberculose, asma, cancro, tumores, erupções, doenças de pele, venéreas, ou quaisquer outras crónicas.
Questionar igualmente toda tara particular de um lado ou de outro.

Pedir ao doente que conte a história da doença que o atormenta.
Este deve fornecer uma narração detalhada dos seus padecimentos. O homeopata anota tudo, iniciando um novo parágrafo a cada sintoma relatado, evitando interrompê-lo.
O paciente começa em regra por narrar os sintomas de que está mais ansioso por se libertar.
Quando termina, o médico passa então para cada sintoma em particular obtendo informações mais precisas, sem que formule questões de forma sugestiva.
Caso hajam lacunas sobre várias partes e funções do organismo, bem como das respeitantes ao estado mental, o homeopata questiona o doente no que a tal respeita.
Se a doença crónica obriga a uma investigação profunda da sintomatologia na sua forma originária e correlativa evolução, já a aguda, cujos sintomas estão bem presentes na mente do enfermo, implica menor esforço do prático, o que não quer dizer, que não seja elaborado um quadro completo da doença e dos sinais característicos do paciente.
Entre outros, deve especificar:
Quando começou;
Há quanto tempo dura;
Quais as modificações e evolução por que passou;
Que remédios tomou e em que quantidade;
Qual a causa da doença (na perspectiva do paciente);
Se engordou ou emagreceu nos últimos meses;
Quantas vezes foi vacinado, contra quê e quais foram os efeitos dessas vacinas;
Quais os sintomas  que mais o mortificam e de que se quer livrar, bem como os mais marcantes, característicos e estranhos.

A PRIMEIRA PRESCRIÇÃO

Na primeira prescrição, o homeopata deve tomar em conta a totalidade dos sintomas, afastando deliberadamente a prática de receitar tendo por base um único sintoma ou sinal, mesmo tratando-se de um “Keynote”.
Ocorre, que numa primeira abordagem do paciente, a sua estrutura psicofísica não é ainda perfeitamente perceptível, pelo que a regra do tripé de Hering, poderá ter aqui um dos seus campos preferenciais de eleição: são necessários como já se disse, três sintomas bem característicos, individualizantes daquele, para que a prescrição possa produzir algum efeito útil.
Em bom rigor, prescrever sobre a totalidade dos sintomas, não quer dizer que todos sejam tomados em consideração, havendo que proceder à sua valorização e hierarquização. A escolha de quatro ou cinco característicos, constituindo o Síndrome Mínimo de Valor Máximo, conduzirá à escolha do simillimum perfeito ou possível.
Não devemos nunca olvidar, que o que caracteriza um indivíduo, são as suas características mentais, seus desejos e aversões e o comportamento que apresenta face aos elementos naturais, com toda a gama disponível de agravações e melhorias.

Face a um caso crónico, que se arrasta há longos anos, o simillimum só deve ser receitado quando o homeopata disponha de elementos suficientes para erradicar a doença. Isto poderá acontecer na segunda consulta, talvez na terceira. Até lá, se o paciente estiver intoxicado por medicamentos alopáticos, receitar-se-lhe-á Nux Vomica, ou se tiver sido alvo de inúmeras vacinações, Thuya. Poderá considerar-se na ausência destas duas situações a possibilidade de ser ministrado Saccharum Lactis, sem qualquer dinamização.

Entendendo-se conveniente, no fim da primeira consulta, entregar-se-á ao paciente um questionário – Kent elaborou um questionário exaustivo, que entregava aos seus pacientes –.

DEPOIS DA PRIMEIRA PRESCRIÇÃO

Poderá ser este o momento em que o simillimum vai ser receitado, caso não o tenha sido na primeira consulta.

Deve assinalar-se a data da toma do primeiro remédio.
O paciente deve anotar todas as alterações do seu estado e dos sintomas, logo depois de ter tomado o remédio.
Sempre que os sintomas se modifiquem, deve ser tal facto rigorosamente anotado.
Anotam-se os sintomas que desapareceram completamente ou de que se sentem melhoras depois de tomado o primeiro remédio.
Assinalam-se os novos sintomas que podem eventualmente aparecer.
Especificar com precisão os novos sintomas e assinalar os antigos que reaparecem durante o tratamento.
Depois de ministrado o simillimum o paciente deve ser consultado nos 10 a 12 dias seguintes, para avaliação do seu estado.

A partir daqui são múltiplas as situações que podem ocorrer. Analisemos sinteticamente cada uma delas.

APÓS O SIMILLIMUM

1 – O paciente AGRAVA:
Precisamos de distinguir o que na realidade agrava: agravação do seu estado geral; agravação dos sintomas da doença; agravação dos sintomas da doença e do seu estado geral.
No entanto, não devemos nunca confundir o fenómeno de agravação homeopática com reacções normais de eliminação, nomeadamente como diarreia, vómitos e expectorações.

AGRAVAÇÃO DO ESTADO GERAL DO PACIENTE – Esta agravação corresponde a uma diminuição evidente da alegria, boa disposição, actividade, em suma, um declínio evidente do estado de saúde.
É necessário nunca olvidar que o homeopata busca acima de tudo uma sensação de bem estar do doente.
Provavelmente o simillimum foi prescrito em baixas dinamizações com tomas muito repetidas.

AGRAVAÇÃO DOS SINTOMAS DA DOENÇA – Agravação dos sintomas causa directa da consulta.

Agravação aguda e curta, seguida de uma melhoria rápida – Estamos perante um bom prognóstico. O doente pode curar-se ou ter uma recaída ao fim de algumas semanas. Neste último caso, repetir o remédio. Atente-se que uma boa agravação não deve ultrapassar três dias.

Agravação longa seguida de lenta melhoria – Uma agravação de várias semanas, a que se seguem pequenos sinais de melhoria, indicam-nos um paciente esgotado, de baixa vitalidade. Devemos evitar a repetição continuada do remédio, sob pena do doente correr riscos desnecessários.

Agravação longa seguida de um declínio do estado geral – Estamos perante um doente incurável. A opção é desistir do simillimum –      que apenas o depauperará – e ministrar pequenos remédios de acção curta e pouco profunda, de carácter paliativo.

Agravação muito marcada seguida de curta melhoria – O remédio não é o simillimum, tendo apenas acção paliativa.

Agravação a que se segue o retorno de sintomas antigos – Estamos perante um prognóstico excelente. No máximo, ao fim de um mês os sintomas antigos desaparecem. Se tal não ocorrer, teremos de pensar numa segunda prescrição.

2 – O paciente MELHORA:
Melhora o seu estado geral e local; melhora o seu estado geral e agravam os sintomas locais; melhora o estado geral mantendo-se o desequilíbrio dos sintomas locais ou melhora o estado geral com manifestações de eliminação.

MELHORA O ESTADO GERAL E LOCAL -  O doente tem uma cura rápida.
Quer o remédio, quer a dinamização foram bem escolhidos, são similares ao grau dinâmico da doença. Também pode acontecer que a doença esteja num estádio inicial.

MELHORAM OS SINTOMAS DA DOENÇA – Melhoria dos sintomas causa directa da consulta.

Melhoria rápida seguida por agravação – Partindo do princípio que estamos perante o simillimum, então o paciente é incurável. Se não for o simillimum, o remédio limitou-se a exercer uma acção meramente paliativa.

Melhoria na direcção errada – O sintoma inicial desaparece, mas surge um novo bem mais grave. Como exemplo, podemos citar o desaparecimento de uma úlcera da perna, surgindo em seu lugar uma hemoptise. Estas situações aparecem em regra quando o homeopata se limita a prescrever com base nos sintomas locais olvidando a totalidade sintomática. Há que reavaliar o caso, considerando o actual quadro sintomático.

Melhoria com reacção tardia – A “reacção tardia” a que se referem alguns autores, surge entre o 15º e o 26º dia após ser ministrada a dose, tendo uma duração aproximada de 15 dias.
O homeopata deve evitar renovar a dose numa nova potência, ministrando antes, uma de placebo, já que qualquer melhoria sem similitude só muito excepcionalmente ultrapassará dez dias. Daí, que uma melhoria de 15 dias é sinónimo de prognóstico favorável, acabando tal reacção por desaparecer decorridos que estejam os ditos 15 dias de agravamento, com o consequente restabelecimento integral da saúde do enfermo.

3 - APARECIMENTO DE NOVOS SINTOMAS – Quando surge um novo sintoma, precisamos de discernir se se trata de um:

Sintoma patogenésico -  Consultando-se neste caso para identificação um Repertório (v.g. Kent, Ariovaldo Ribeiro Filho), ou uma matéria médica exaustiva (v.g. Clarke, Allen). Tratando-se de tal, acabará por desaparecer em poucas semanas, podendo prescrever-se S.L., evitando-se qualquer outra intervenção.
Também não deixa de ser provável que os sintomas venham a ser demonstrados como elencadores do quadro patogenésico do medicamento por ulteriores experimentações.

Sintoma do quadro evolutivo da doença – Aqui, ficaremos certos que o remédio prescrito não é o simillimum, face ao desenvolvimento do quadro patológico, urgindo uma reavaliação do caso.
 
Sintoma mais grave do que o inicial -  Já vimos esta situação (Melhoria na direcção errada).

Sintoma menos grave que o inicial – Se segue a direcção da cura homeopática, o prognóstico é bom. Um eczema facial que desaparece e surge numa perna (do alto para o baixo); Uma úlcera que desaparece, surgindo uma erupção numa perna (de dentro para fora); Desaparece uma úlcera surgida em 1998, depois uma arritmia com inicio em 1997 e por fim dores erráticas nos membros que se arrastavam desde 1992 (os sintomas desaparecem na ordem inversa do seu aparecimento).

Sintoma antigo que retorna – Também já analisado supra (Agravação a que se segue o retorno de sintomas antigos).

A melhora dura um tempo normal, mas surge um novo conjunto de sintomas – Esta situação conduz a uma nova prescrição, que por sua vez conduz ao aparecimento de novos sintomas e assim sucessivamente, enquanto o doente enfraquece progressivamente. Em princípio, tratar-se-á de doente incurável.

4 – O paciente NEM AGRAVA NEM MELHORA – Neste particular é necessário aprofundar cautelosamente as inúmeras possibilidades atinentes à ausência de êxito:

Pode acontecer que tenha sido esquecida em sede de repertorização a causa etiológica dos padecimentos, cuja importância em sede de casos crónicos é fundamental.

Que a narração dos sintomas seja inexacta, obrigando a uma reavaliação do caso.

A existência de barreiras medicamentosas ou infecciosas anteriores que impedem a acção do remédio, tais como, vacinação, blenorragia.

Taras hereditárias, tais como, blenorragia, sífilis, tuberculose, cancro, o que nos levará à aplicação de nosodos.

Abuso de alimentos ou produtos de elevada toxicidade, como chá, café, bebidas alcoólicas, tabaco, drogas.

Abuso de medicamentos alopáticos. A intoxicação é por vezes tão grande que se torna imperativo receitar o antibiótico, ansiolítico, antidepressivo, corticóide, anestésico, etc. homeopaticamente diluído e dinamizado, na 15ª ou 30ª centesimal (CH).

Má preparação do remédio. Como em tudo, nem todos os laboratórios são fiáveis.

Remédio mal tomado. Os remédios devem ser tomados longe das refeições, directamente debaixo da língua, sem contacto com os dedos ou diluídos em água pura.

Dinamização inapropriada. É fundamental encontrar a dinamização a que determinado paciente responde: uns são sensíveis a uma 9ª CH, enquanto outros necessitam de uma 200 CH ou mais.

Ausência de reacção. Pode ocorrer uma ausência de reacção por parte do doente. Quer no Repertório de Kent, quer no de Ariovaldo, encontramos uma rubrica consagrada a este género de carência.
De realçar, que nalguns pacientes a reacção é de todo oposta: objectivam os sintomas do medicamento ministrado, ou seja, reproduzem a sua patogenesia.
Por outro lado temos de estar atentos ao facto de que alguns remédios agem mais rapidamente que outros. Em casos crónicos, a sua acção pode manifestar-se apenas 30 dias após a toma, enquanto que nos agudos, teremos de ter uma resposta imediata ou nas primeiras horas.

A REAVALIAÇÃO

Se o estado geral do paciente for excelente, o homeopata só muito excepcionalmente deverá modificar a medicação.
Caso o tenha de fazer, como acima se expressou, deverá tomar em linha de consideração uma nova repertorização que inclua, talvez, como guia, o último sintoma que surgiu e pesquisar nos medicamentos disponíveis um complementar ou que siga bem o primeiro, o que impõe a consulta de uma tabela que forneça a relação entre os remédios – v.g. R. Gibson Miller, Clarke –.