loader

O Repertório Homeopático

Hahnemann entendeu desde os primórdios da sua prática clínica e científica, face ao desenvolvimento e alargamento da Matéria Médica homeopática, consubstanciada no aumento das substâncias experimentadas, a necessidade de criação de repertórios que se constituíram como índices de sintomas coligidos a partir de registos toxicológicos – v.g. a intoxicação voluntária ou involuntária pelo arsénico –, experimentações em voluntários aparentemente saudáveis – que começaram por ser os próprios homeopatas –, e curas comprovadas pela prática clínica.
Estes repertórios, prosseguem a descoberta do simillimum  e espelham a impossibilidade do ser humano, atentas as suas limitações, de memorizar todos ou a maior parte dos sintomas das ditas Matérias Médicas.

De Hahnemann (1) a Kent (2), foram publicados inúmeros repertórios destacando-se os de Boenninghausen (3)- “The Repertory of Antipsorics” (1832); “Repertory of the Medicines wich are not Antipsorics” (1835); “Therapeutic Pocket Book” (1845) –, de Jahr – “New Manual of Homeopathic Practice” (1841) –, de Lippe – “Repertory of the more characteristics Symptoms of the Materia Medica” (1880) –, de Hering – “Analitical Repertory” (1881) – e Gentry – “The Concordance Repertory of the Materia Medica” (1890) –.

Em 1887, Kent fazia publicar o “Repertory of the Materia Medica” com 540 medicamentos citados, podendo dizer-se, sem exagero, que está na origem de todos os repertórios actualmente utilizados.
Os capítulos desta obra, formam 37 secções – v.g. 1 - Mente; 2 - Vertigem;        3 - Cabeça; (...); 32 - Sono; (...); 37 - Generalidades – e alguns são subdivididos anatomicamente – v.g. Cabeça: Fronte; Lados; Occipital; Têmporas e Vértice –.
Os medicamentos surgem pontuados de 1 a 3, isto de acordo com a sua eficácia e confirmação na génese patogénica.
As referências cruzadas presentes na obra, destinam-se a prevenir interpretações erróneas dos sinais patológicos expressos pelo paciente, isto, ao remeterem para rubricas sinónimas as expressões ou palavras que este emprega.

Além destes, não podemos deixar de nos referir ao “Clinical Repertory” de John H. Clarke (1853-1931), autor de uma Matéria Médica que demorou dezasseis anos a concluir e que se apresenta como uma das mais importantes para o estudo e prática da Homeopatia. (4)

 

_Notas:

(1) “Fragmenta de Viribus Medicatorum Positivis in Sano Corpore Humano Observatis”, obra composta por dois volumes, em que o primeiro expõe a patogenesia de 27 medicamentos e o segundo pode ser qualificado o primeiro repertório de sintomas dispostos alfabeticamente, com referências aos constantes no primeiro volume.

(2) Kent nasceu em 31/03/1849, obtendo o diploma em medicina aos 25 anos. Converteu-se à homeopatia no seguimento da cura operada por um prático homeopata na sua segunda mulher e iniciou os seus estudos lendo o Organon de Hahnemann. Para além dum Repertório com 1423 páginas, foram publicados  entre outros, “Lectures in Homeopathic Philosophy” e “Lectures on Homeopathic Materia Medica”.

(3) Boenninghausen nasceu em 12/03/1785, na Holanda, licenciando-se em Direito em 1806. Possuía uma cultura diversificada, que abrangia a botânica, a agricultura e a medicina. Em 1828, um amigo que se havia tornado homeopata, cura-o de uma tuberculose quando as suas esperanças de vida já tinham terminado. A Homeopatia ganhou assim um adepto fervoroso e Hahnemann o mais dedicado discípulo, que produziu um intenso trabalho literário.

(4) “Dictionary of Practical Materia Medica”, Homoeopathic Book Service, 1991 – a primeira edição é do ano de 1900 –, três volumes com um total de cerca de 2.500 páginas.