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Repertorização

“Um terapeuta que se satisfaça com indicações vagas do Repertório para a selecção do medicamento, e rapidamente atende um paciente atrás de outro é apenas um charlatão e não merece o honrado título de Homeopata.”

A repertorização é o modo pelo qual o homeopata, transformando a linguagem do paciente no que aos sintomas do caso respeita, em linguagem repertorial, obtém um maior ou menor número de medicamentos ordenados por cobertura ou pontuação.
A repertorização é meramente sugestiva. Ela indica-nos um conjunto de substâncias que se podem assumir potencialmente como semelhantes do caso. Mas a decisão caberá sempre em última instância, à comparação por diferencial, da totalidade sintomática com as patogenesias descritas nas Matérias Médicas.

É fundamental entender-se que a prescrição só será correcta e coroada de sucesso se o homeopata estiver habilitado a destrinçar os sentidos de rubricas similares ou quase similares. Para tal, deve ler amiúde as rubricas do Repertório, percorrendo-o sem qualquer outra intenção que não seja conhecê-lo. Este manuseio atento, permitir-lhe-á em inúmeras situações, realizar uma cuidada repertorização, com sintomas bem definidos e modalizados, preservando a linguagem empregue pelo paciente, limitando a utilização de sinónimos repertoriais, que se susceptibilizem de alterar o sentido ao relato que o paciente fez durante a anamnese.

Devemos sempre procurar certificar-nos que a expressão utilizada pelo doente, tem integral correspondência com os termos repertoriais. As rubricas demasiadamente genéricas, com um número muito elevado de medicamentos – ex. Falta de apetite207 medicamentos; Medo, apreensão, pavor – 238 medicamentos; Dor de cabeça273 medicamentos – ou aquelas que apresentam muito poucos –  ex.: Medo de aranhas1 medicamento; Medo de sair fora de casa2 medicamentos. Como já se disse, no artigo referente aos sintomas é desaconselhável a prescrição baseada em Keynotes, cuja função deve ser meramente indicativa e (ou) sugestiva – devem ser evitadas dado poderem, respectivamente, exacerbar ou restringir a amplitude da pesquisa. O ideal será a utilização de rubricas com um número médio de medicamentos, não se ultrapassando os oitenta – é evidente que este número é susceptível de adequação, tendo em conta a filosofia e estrutura do Repertório utilizado –.

Atente-se que nas doenças agudas, havemos de valorizar primordialmente os sintomas mais recentes, enquanto que nas crónicas são valorizados os mais antigos e repetitivos, sem olvidar, obviamente, o critério da peculiaridade dos sintomas.
As patologias agudas facilmente vicariam progressivamente tornando-se crónicas. Cremos que na coexistência de um quadro com queixas de carácter agudo e crónico, poderá dar-se primazia à cura dos sintomas agudos, já que, o que importa é o bem estar imediato do doente. De qualquer modo, a cura “a longo prazo” não deve ser ignorada, e a acção medicamentosa escolhida pelo homeopata dirigida igualmente para a supressão da enfermidade crónica.

Apontamos de seguida, sumariamente, os métodos de repertorização mais utilizados:

  • Repertorização Mecânica ou por Extenso;
  • Repertorização com Sintoma Director;
  • Repertorização fundamentada na Síndrome Mínima de Valor Máximo.

Repertorização Mecânica ou por Extenso

Neste método, identificam-se todos os sintomas do paciente – tabulação completa da totalidade sintomática como preconizava Boenninghausen –, sem que se recorra a qualquer valoração ou hierarquização.
Repertorizam-se os sintomas e no final procedem para o diferencial na Matéria Médica os dez ou doze primeiros medicamentos que resultaram da actividade repertorial – estes podem ter sido obtidos por cobertura e/ou pontuação.
 Os medicamentos resultantes da repertorização podem ser traduzidos quer por “cobertura” quer por “pontuação”. Cobertura significa que determinado medicamento engloba um número específico de sintomas que o homeopata repertorizou – o número de sintomas cobertos pelo medicamento determinam a sua importância –. Pontuação refere os pontos acumulados pelo medicamento, atendendo ao “Grau de pontuação” que este possui face a determinado sintoma repertorizado – v.g. Boca, Calor – Belladona (Grau I) / Aconitum (Grau II) / Mercurius Solubilis (Grau III) –. Quantos mais pontos forem atribuíveis ao medicamento, mais importante ele será.

De qualquer modo, para efeitos de diagnóstico diferencial, não devem ser descurados os sintomas característicos, peculiares, raros e raríssimos.
Este, é considerado por muitos o método de repertorização mais falível, por beneficiar os medicamentos policrestos.

Repertorização com “Sintoma Director”

Considera-se como Sintoma Director aquele que é o principal de um caso e que limita a pesquisa repertorial dos restantes sintomas aos medicamentos que o englobam nas suas patogenesias.

 Este método compreende duas fases:

A primeira, implica que se escolha um sintoma bastante característico e marcante ou chamativo do caso clínico. Como já foi mencionado, a rubrica referente ao sintoma não deve ultrapassar os oitenta nem possuir muito poucos medicamentos.

Referimos ainda a constituição do Sintoma Director através de dois outros métodos para além daquele em que se emprega o sintoma simples. O primeiro, refere-se à elaboração do Sintoma Director mediante a soma de dois ou três sintomas marcantes do caso – “... como no caso de rubricas afins importantes e que possuam poucos medicamentos” –. No segundo método, já não são sintomas que se somam, mas sim rubricas marcantes e indubitáveis que se cruzam, geralmente duas ou três. Estas possuem um número razoável de medicamentos (mais de 50) e são: “... todas igualmente importantes, indispensáveis, sem relação directa de afinidade e que seriam utilizadas em algum momento da repertorização.” (Ariovaldo Ribeiro Filho, Conhecendo o Repertório & Praticando a Repertorização, Editora Organon, páginas 165 a 167).
 
A repertorização cingir-se-á aos medicamentos apresentados pelo Sintoma Director. Destes medicamentos escolhem-se os de maior pontuação.

Numa segunda fase, procede-se à repertorização de outros sintomas marcantes que dependerão directamente dos resultados obtidos da análise do S.D. A escolha destes sintomas não depende de qualquer pressuposto hierárquico. Neste momento da actividade repertorial, o critério de selecção do medicamento deixará de ser exclusivamente a pontuação passando a ser também a cobertura, já que se incluíram vários novos sintomas.
Na fase final da repertorização, serão levados ao diferencial da Matéria Médica os dez ou doze medicamentos que tenham tido maior pontuação.       
        

Repertorização Fundamentada na Síndrome Mínima de Valor Máximo

É denominado como método artístico.
Escolhem-se de 3 a 5 sintomas, devidamente hierarquizados, caracterizadores da individualidade do paciente, em rubricas com um número médio de medicamentos.
Neste tipo de repertorização não se atende à pontuação mas sim à cobertura efectuada pelos medicamentos. O medicamento seleccionado, é aquele que por cobertura, engloba a totalidade ou a maior quantidade dos sintomas seleccionados.
A parte consideravelmente mais difícil deste método, é a fixação da S.M.V.M. – selecção dos sintomas mais individualizantes e representativos do caso –.

Pode-se efectuar uma variação sobre este método, que compreende a utilização dos medicamentos resultantes da repertorização como sintomas directores aos quais vão ser aditados outros sintomas apresentados pelo paciente para ulterior análise repertorial. Trata-se nada mais do que a combinação do método de Repertorização pela S.M.V.M com o método de Repertorização com “Sintoma Director” – ver Conhecendo o Repertório & Praticando a Repertorização de Ariovaldo Ribeiro  Filho, página 157 –.