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A ATENÇÃO

“O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…”

Estar atento é estar com o que é, compreendendo a realidade sempre nova, sem recurso ao pensamento.
Atenção, no sentido que lhe damos, não é concentração que incide sobre um objecto, pessoa ou coisa. Não é percepção tendente ao conhecimento do particular.

Intuir, é percepcionar de imediato a essência das coisas que nos são exteriores ou que constituem o conteúdo da consciência.
Despidos de imagens, preconceitos, ideias, podemos experimentar e entender o novo.

Quando há atenção, não há eu, nem o outro, não há observador e objecto observado, porque o pensamento se dissipa.
Se realmente atentos, o pensamento cessa.
Observamos um milhafre na sua caçada implacável, o voo gracioso de uma ave, o olhar terno de uma criança, a passagem de um combóio na gare, um deslumbrante pôr-do-sol e ficamos apenas com o facto. Compreendemos o que se está a passar imediatamente. Não há pensamento, mas compreendemos. O cérebro está tranquilo, sem tagarelar, pleno de energia, e entende sem pensar.
O mesmo se passa com qualquer problema. O entendimento é libertador.

Concentração é esforço dirigido. É a tentativa de aquietar a mente com as suas inúmeras tagarelices, pela repressão e pela violência.
É conflito, na medida em que tentamos iludir a distracção que retorna sempre, de forma mais ou menos insistente.
Estar atento, ao contrário, não é esforçar-se nem usar desnecessariamente a memória, esgotando o cérebro, extirpando-lhe a vitalidade e energia tão necessárias à existência quotidiana. É poisar a mente, os sentidos sobre nós e tudo o que nos circunda, é vigilância passiva integral.

Na atenção há liberdade. Não há juízos ou pré-determinações acerca de nós ou dos outros. Há quietude, pois o pensamento tende a parar espontaneamente.
Não há um método para se ficar atento.
É um intenso saber olhar, escutar, sentir, que se constrói imperceptivelmente, jornada após jornada.

Vou no combóio. Estou atento às sensações corporais, à conversa dos passageiros ao meu lado e ao rumor da fala dos mais afastados, ao ruído das rodas que deslizam nos carris, ao deslocamento do vento. Vejo as hortas, as árvores, os túneis, as casas, as pessoas e seu afã, a névoa que abraça os vales, os animais que pastam. Estou sensível aos balanços e impressões que corporalmente me causam, à alteração dos sons, ao apito, aos múltiplos verdes e ocres, às nuvens escuras no céu, às gotas de chuva na janela. Observo as expressões dos outros viajantes e os meus pensamentos quando surgem.
Que quietude advém de tudo isto.
E quanto maior a atenção, maior a quietude.

 

Do livro “O Eterno Agora e a Revelação da Consciência”