Meditar não é cumprir um programa espiritual, não se compadece com retiros, não tem horas marcadas. Não é um procedimento racional que visa atingir uma verdade específica. É atenção global e constante de todas as ocasiões sejam elas quais forem.
Implica solidão, a libertação do conhecido, a extinção da dor, para que o novo, o desconhecido surja.
As disciplinas meditacionais são torturantes e como todo o esforço para vir a ser, só produzem mais dor, mais intranquilidade, insatisfação e insegurança.
A actividade ascética, como modo de renúncia e supressão dos nossos instintos e desejos, austeridade forçada pela vontade, é perniciosa, destruindo o espírito, a beleza e o amor.
A meditação começa com o autoconhecimento. Temos de observar todos os nossos pensamentos, emoções, sentimentos. Esta vigilância levará ao silêncio. Neste, o inconsciente projecta sugestões, carências, o que conduz ao conhecimento do indivíduo na sua integralidade.
Para além de pressupor autoconhecimento, pressupõe também isenção de condicionamentos. A observação do pensamento, de todos os seus subtis movimentos e de tudo o que nos rodeia, sem comparação ou julgamento.
Não implica controlo, mas atenção, que não desvirtua a realidade do que é observado.
Meditar é ver, ouvir, sentir, cheirar, saborear as coisas como elas são. Meditar é atenção global, não é concentração, fruto de exercícios mentais obnubiladores.
Ouço o canto dos pássaros, o vento na vegetação, a água corrente, os que me falam, vejo as nuvens no céu, o despontar do Sol, o brilho das pedras humedecidas pelo orvalho da manhã, os rostos dos camponeses. Observo os meus pensamentos e toda a minha consciência descendo até aos mais recônditos e obscuros lugares. Saboreio os frutos e demais alimentos, inalo os mais variados aromas.
Sentir o vento, a chuva e o sol no rosto e nas espáduas no seio da natureza sem o alvoroço do raciocínio é meditação.
Tudo de uma vez só, de forma total, como a própria vida.
Com esta atenção vigilante, que é sensibilidade à existência, o pensamento silencia-se.
Não é fácil observar continuadamente.
A meditação é a única coisa que vale a pena se é com ela que termina o sofrimento.
A morte psicológica é uma experiência fantástica. E o renascer algo de mais fantástico ainda.
Quando meditamos, a ausência da sucessão de pensamentos libera uma imensa energia explosiva e criadora porque não está alicerçada no passado.
As forças do universo concentram-se no silêncio quando o pensamento cessa. Uma existência sem causalidade ou propósito, identificando-se com a do próprio Cosmos.
É pela meditação, pela observação pura e simples, que podemos descobrir o que está para além do pensamento, do espaço-tempo. É o único modo.
A razão só tem tornado complexo o que é simples ao amontoar século a século teorias e doutrinas contraditórias e paradoxais.
Do livro “O Eterno Agora e a Revelação da Consciência”
A sociedade transformar-se-á quando cada um de nós se transformar, transformando-se a cada transformação, por ínfima que pareça. E a nossa transformação ocorrerá espontaneamente, quando nos limitarmos a ser o que efectivamente somos, sendo apenas aquilo que somos e tendo plena consciência desse facto.
Se vivemos na “realidade”, então viceja a paz por contraposição aos conflitos gerados pela ilusão e pela fantasia. Nestas, não há tempo para o eterno agora, mas antes para um passado falecido e um futuro inexistente. O “eterno agora” não é vivenciado como o que passa, mas como algo que é desde sempre e o será no porvir.
Quando o pensamento termina, entramos em contacto com a morte psicológica sendo a visão daí resultante renascimento e eternidade, podendo então a mente penetrar num mundo que em muito a excede. Inexistindo pensamento, não há tormento, não há medo ou aflição. Observar o sofrimento, o medo ou qualquer problema é fazê-lo cessar, como consequência da cessação do pensamento.
Onde houver sofrimento não está a Verdade, a Paz, a Beleza e o Amor.
E apenas a Meditação pode fazer findar o sofrimento.