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A Necessidade de Um Repertório Prático de Sintomas Homeopáticos

Conheci o Ariovaldo quando frequentava o Curso de Homeopatia. Ministrou-nos num pequeno curso e alguns seminários a teoria e prática da repertorização, com recurso ao seu Novo Repertório de Sintomas Homeopáticos, Editorial Robe, e testámos a sua versão digital. Estudava numa escola de tendência pluralista, e a sua aproximação à medicina alopática não me satisfazia. Não encontrava motivação e consequente entusiasmo, na prescrição estruturada por patologias. Pretendia ver cumpridos os princípios fundamentais estabelecidos por Hahnemann, único método que pode ser considerado artístico. Julgava e julgo, que temos de retornar a Hahnemann, sob pena de destruirmos incautamente o que foi edificado sobre alicerces seguros.
Foi com excitação que adquiri a versão em livro e posteriormente a digital. Foi com admiração, que durante noites a fio percorri as rubricas do seu repertório. Estava traçado o meu caminho na Homeopatia: o Unicismo. Mas também percebi a desorientação da maioria dos colegas que assistiam ao seminário. Tenho conhecimento que nenhum deles o utiliza sistematicamente. A maioria invoca ou a sua complexidade, ou a pura falta de tempo, reconduzindo-se ambos os motivos ao segundo, que decorre do desejo sempre revitalizado de auferir mais proventos, em conivência com uma sociedade materialista e de consumo. Médicos e terapeutas, correm de clínica em clínica, de hospital em hospital, privilegiando os rendimentos à competência e estudo.
Continuo a preferir não ter tempo para não ter tempo. A dedicação gratuita à ambição, talvez impressionado pela vida e obra dos primeiros homeopatas, talvez pela dos velhos sábios da minha aldeia que souberam sempre olhar o mundo e os outros com “olhos de ver” e não com “olhos de interesse financeiro ou ouro”.

O Repertório tem sido na prática homeopática, para além de um mistério, uma “compilação esotérica”. São muito poucos os que se aventuram a uma continuada utilização de um instrumento absolutamente essencial à eficiência de toda a potencialidade da terapêutica homeopática.
Aldo Farias Dias escreveu como introdução à excelente obra de Ariovaldo Ribeiro Filho, Conhecendo o Repertório e Praticando a Repertorização, Editora Organon: “Lembro-me da animação gerada nos primeiros participantes do Grupo de Estudos Homeopáticos Samuel Hahnemann (GEHSH) ao tomar conhecimento do repertório de Barthel. Do contentamento em poder utilizar o primeiro volume com os sintomas mentais e a ansiedade da espera dos dois volumes restantes”.

Qual é que será o melhor repertório? Aquele que tem um maior número de rubricas? O que tem um maior número de medicamentos descritos? Não existem critérios seguros de aferição.
Em primeiro lugar a sua utilidade depende da sua utilização. De nada serve um instrumento, que pela sua complexidade desmotive a generalidade dos práticos.
Por outro lado, é óbvio que esta utilização para ser produtiva, impõe o seu conhecimento, o domínio da sua estrutura, filosofia e das rubricas. A leitura destas, o conhecimento das sinonímias e das referências cruzadas impõe-se inelutavelmente, sob pena de estarmos definitivamente votados ao fracasso.
 
A nossa experiência, fundamentalmente adquirida nos Cursos que ministramos nos Homeopatas Sem Fronteiras-Portugal, esclarece-nos das dificuldades dos alunos no manuseamento dos Repertórios existentes, o que nos levou a idealizar um Repertório Prático essencialmente fundamentado:

  • Numa estrutura kentiana simplificada, elegendo-se como prioritários, os Sintomas Mentais, Gerais, e apenas os Locais mais importantes;
  • Num número restrito de rubricas confiáveis do Repertório de Kent – na sequência de análise própria executada rubrica a rubrica, e da análise estatística factorial elaborada minuciosamente por Jean-Jacques Kasparian;
  • Da redução do número de medicamentos, atenta a importância das suas patogenesias, inserção em rubricas de vários repertórios, e probabilidade matemática de aparecimento na repertorização do indivíduo como um todo – com as inerentes deficiências nos casos agudos e subagudos.

Tal Repertório, tem como objectivos:

  • Um fácil manuseio, dado que não é demasiadamente extenso;
  • Um conhecimento detalhado da sua estrutura, e das rubricas, por ter sido expurgado das que não são confiáveis e de todas as que têm valor duvidoso;
  • Um rápido acesso às rubricas de boa qualidade;
  • O enquadramento correcto do perfil psicofísico do paciente, desde que o interrogatório, a valorização e hierarquização de sintomas não padeçam de imperfeições ou erros irreparáveis, auxiliando-nos assim a percepcionar a coerência dos sintomas daquele, de molde a configurar com realidade a sua fiel individualização, com o intuito final de conseguir estabelecer o simillimum;
  • A capacidade de num curto espaço de tempo fornecer ao terapeuta os medicamentos potencialmente aplicáveis ao caso clínico – o que não o dispensará de consultar diligentemente as matérias médicas.

Em suma, mesmo não dispensando o posterior estudo de Repertórios exaustivos, tenderá a não desmotivar o estudante e o prático, solucionando, bem mais de 90% dos casos que lhe podem surgir, com abrangência integral no domínio do crónico.
Não será perfeito, nenhum o é. Talvez seja apenas prático, mas faremos todos os possíveis para que minimize o padecimento físico dos enfermos e o sofrimento psicológico de uma sociedade que enlouquece e permite o ensandecer dos seus filhos.
É essa a nossa firme intenção, a nossa esperança e por ela lutaremos até à exaustão.