Diátese é o conceito actual que além de englobar a doença crónica resultante de acção miasmática a que se refere Hahnemann, enquadra o conceito de modo reaccional patológico – diátese é um conceito que surgiu com a Escola Pluralista, correspondendo à doença hahnemanniana crónica –.
“Emanações que outrora eram consideradas, erradamente, como causadoras de doenças e que provinham de detritos orgânicos em decomposição ou de doenças infecto-contagiosas e cujos efeitos se podem assemelhar, em parte, à acção microbiana no organismo”. Embora esta seja a definição de miasmas, que comumente se pode encontrar num dicionário, a realidade doutrinária homeopática subjacente ao conceito é muito mais vasta do que aquela que a mera descrição linguística pode denunciar. Efectivamente, Hahnemann empregava o termo miasma no mesmo sentido com que ele é definido actualmente, mas a sua conceptualização do fenómeno miasmático era bastante mais abrangente do que a priori se pode pensar. Das palavras do Organon pode depreender-se, que para Hahnemann, miasmas são estigmas de infecções contraídas e suprimidas num passado remoto pelos nossos ancestrais. Estes estigmas são perpetuados pela linha genética, condicionando o modo reaccional de um organismo, que pode apresentar uma predisposição particular para contrair certas doenças e manifestar determinada realidade sintomática. Este eminente fundador homeopata, desconhecendo os actuais conceitos de genética, microbiologia, virologia e bacteriologia, desenvolveu um corpo doutrinário capaz de explicar a perpetuação na linhagem genética de marcas resultantes de infecções bacteriológicas, e explica inclusive, as micromutações cromossómicas que sofremos ao longo das décadas ou séculos e que reflectem as adaptações aos meios patológicos. Na realidade é mais fácil perceber as inequívocas macromutações – adaptações – aparentemente estáveis, que a nossa espécie sofreu ao longo de milénios, do que as transformações que os seres experimentam num espaço de tempo circunscrito a algumas décadas ou séculos Traduz-se assim, numa modalidade reaccional patológica específica dum indivíduo face a uma agressão patogénica indiferenciada. Crê-se actualmente que o conceito de miasma hahnemanniano se encontra ultrapassado – principalmente devido às recentes concepções das Escolas Pluralistas que o consideram lacunar – , devido ao facto de este não englobar uma série de factores etiológicos de carácter endógeno, nomeadamente a hereditariedade e a adaptação dos genes humanos. Erradamente, esta perspectiva actual resulta de interpretações restritivas da obra de Hahnemann: da leitura atenta do capítulo do Organon referente aos miasmas, depreende-se que Hahnemann acreditava numa perpetuação dos efeitos miasmáticos. O § 81 do Organon denuncia que Hahnemann não descurou – embora não conhecesse – o conceito de hereditariedade e de micromutação dos genes nos organismos vivos face a agentes patogénicos exógenos
Deve referir-se, que a remoção da superfície do organismo das manifestações de uma doença miasmática interna, deixando o miasma por curar, é a forma mais usual e prolífica de produzir doenças crónicas – Organon § 202/205. A supressão de um eczema na criança pode conduzir a ulteriores crises asmáticas. Hahnemann defendia que não se devia aplicar nas enfermidades locais, crónicas ou agudas, externamente, qualquer remédio, nem mesmo o homeopático correcto (Organon § 194; § 195). Este conceito hahnemanniano, embora teoricamente correcto, deve ser interpretado à medida da experiência clínica do homeopata, dos efeitos das diversas substâncias ou remédios no organismo, da patologia em causa ou da idiossincrasia do enfermo. A aplicação tópica de uma pomada de Arnica para um traumatismo físico recente, dificilmente terá complicações no organismo do paciente –.
A doença crónica progride do exterior para o interior, do baixo para o alto e os sintomas desaparecem na ordem inversa do seu aparecimento.
Hahnemann, constatou que alguns doentes tratados convenientemente com o remédio simillimum:
Daqui deduziu que subjacente à patologia aguda teria que existir uma crónica, que englobou em categorias diatésicas, verdadeiras disposições latentes, de causa hereditária ou adquirida, condicionantes do modo de reagir de um organismo, predispondo-o a contrair um certo número de doenças.
Assim, os doentes cujas patologias não respondessem satisfatoriamente ao simillimum, deveriam ser enquadrados naquelas categorias para efeitos de tratamento – cada uma das categorias engloba os pacientes cuja reacção patológica é análoga, independentemente do agente agressor –.
Atente-se que a noção de doença crónica, não foi unanimemente aceite. Homeopatas como Kent e Hering, não lhe atribuíram grande importância, desenvolvendo todos os seus esforços na tentativa de descoberta do simillimum aplicável às situações patológicas imediatas do paciente em observação.
Gibson Miller, aluno de Kent, sustentou a necessidade de serem administrados sucessivamente diversos remédios, com o fim das doenças crónicas atingirem a cura.
Se no decurso de uma doença crónica surgir uma doença aguda banal, deve ser prescrito o remédio mais indicado, mas em baixa dinamização, de forma a não interferir ou interferir o menos possível com a acção prioritária do remédio de fundo.
Hahnemann individualizou três categorias:
Pelos trabalhos de Nebel e Vannier, incluem-se outras duas:
Existindo um número considerável de remédios diatésicos, o terapeuta terá de procurar nas suas patogenesias os sintomas do quadro patológico apresentado pelo doente e obtido com recursos que não se limitam aos sinais recentes.
É aqui de vital importância a anamnese e o simillimum terá de estender a sua acção, quer aos sintomas imediatos quer aos mediatos – os que constituem o modo reaccional daquele paciente –.Numa doença crónica, a totalidade dos sintomas, compreende os existentes desde o nascimento, excluindo os que se apresentem como estruturadores de um quadro agudo.
Em regra, o simillimum terá propriedades de cura quer no agudo, quer no crónico, mas quando tal não aconteça, terão de se receitar sucessivamente vários medicamentos, em consonância com a reavaliação constante do paciente e da patologia. Mas apenas um de cada vez. Recordamos que as Escolas Pluralistas preconizam a utilização simultânea de vários medicamentos e que as Complexistas misturam várias substâncias na mesma solução excipiente. Embora a prática clínica possa indicar a existência de resultados favoráveis mediante a particular prescrição terapêutica destas duas Escolas, aconselhamos a que os princípios basilares da homeopatia sejam inteiramente respeitados, até que a experiência clínica pessoal alicerçada os conteste.
É importante frisar que todos nós somos polidiatésicos – as diáteses puras ou quase puras só surgem em pediatria – e as diáteses devem ser tratadas na ordem cronológica inversa ao seu aparecimento: primeiro a mais recente, depois a(s) mais antiga(s).
Se constatarmos uma determinada diátese actual, a sua cura fará com que surjam os sinais da diátese ou diáteses mais antigas, que serão tratadas em ordem sucessiva com o respectivo simillimum, até ao desaparecimento integral de todos os sintomas.
Cada paciente individualmente considerado, exibe apenas uma parte total dos sintomas que constituem a extensão total da diátese, extensão esta que foi obtida pela observação de muitos pacientes acometidos dessa “doença crónica”.
No domínio das diáteses, para além dos medicamentos de referência, crê-se que exerçam um papel fundamental os nosodos, policrestos de acção quer geral, quer local – Psorinum, Medorrhinum, Luesinum, Tuberculinum e Carcinosinum –.
Os nosodos são produtos patológicos tecidulares ou extraídos de secreções mórbidas de origem vegetal, animal ou humana, diluídos e dinamizados segundo as técnicas da farmácia homeopática, administrados a partir da 6ª diluição decimal.
Os métodos bioterápicos foram desenvolvidos em França, paralelamente à homeopatia.
É necessário reconhecer que apenas uma pequena parte dos bioterápicos podem ser considerados medicamentos homeopáticos, porquanto a maioria carece de experimentação, de patogenesia. Entre os que assim são reconhecidos, estão os supra mencionados.
Já referimos o medicamento constitucional de cada uma das diáteses:
As constituições – o conceito de constituição tem o seu domínio praticamente limitado à Escola Pluralista –, carbónica, fosfórica e fluórica, que são uma constante dos indivíduos, foram estudadas por Nebel e são determinadas pela observação do esqueleto e da forma do corpo.
Expomos a seguir, ainda que sumariamente, os principais sinais e sintomas das várias diáteses, de forma a que o homeopata possa expeditamente subsumir-lhes o quadro clínico apresentado pelo doente sujeito a observação – para o estudo desta matéria, é fundamental a obra: “As diáteses homeopáticas”, de Max Tétau, Editora Andrei, 1998 – veja-se ainda o desenvolvimento da mesma, no nosso livro Homeopatia Essencial, da editora SeteCaminhos –.
PSORA
A psora resulta na sua base conceptual Hahnemaniana, das sarnas cutâneas. Estas abundavam na época e encontravam-se mal definidas clinicamente. Deste modo, a psora não resulta exclusivamente da sarna mas também de toda uma série de enfermidades dermatológicas – eczemas, dermatoses, dermatites, micoses, etc. –.
Este grande miasma, comporta assim uma componente cutânea, seja ela adquirida ou congénita.
No que respeita ao quadro sintomático e de sinais clínicos psóricos:
Modalidades:
SICOSE
A sicose resulta da evolução crónica de uma gonorreia. O conceito de sicose além de se enquadrar no quadro patológico da blenorragia, ultrapassava os seus limites e englobava qualquer tipo de tumoração benigna.
Os principais sinais e sintomas clínicos são:
Modalidades
LUETISMO OU MIASMA SIFILÍTICO
Hahnemann descreveu-a originalmente como sífilis visto resultar etiologicamente de uma infecção pelo Treponema Pallidum. A Lues – como é conhecida actualmente – reflecte a evolução de uma doença pelo chamado “cancro duro”.
Sinais e sintomas da Lues:
Modalidades:
TUBERCULINISMO
Esta é uma diátese actual, identificada por Nebel e Léon Vannier. É fruto da tuberculose e os seus órgãos alvos são os respeitantes ao aparelho respiratório.
Principais sinais e sintomas da diátese tuberculínica:
CANCERINISMO
Esta diátese é fruto de estudos recentes e caracteriza-se como um modo reaccional que pende sobre o risco da oncogénese.
Como principais sinais e sintomas clínicos desta diátese temos:
Modalidades:
Expostas as diáteses homeopáticas, fazemos um reparo a respeito da sua utilização na prática homeopática.
Efectivamente, a sua importância clínica não deve ser descurada de modo algum, mas o modo como se efectua a terapêutica nalguns casos conhecidos deixa muito a desejar.
A prescrição de nosodos ou de qualquer remédio diatésico deve ser sempre precedida por um estudo profundo, que tome em linha de conta as leis da similitude.