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O Repertório de Kent

Kent, após a sua conversão à Homeopatia, utilizou durante alguns anos o repertório de Lippe.
Insatisfeito com todos os trabalhos realizados até essa altura, nomeadamente com a doutrinação de Boenninghausen – em que as modalidades das partes se misturavam com as do paciente em si –, optou por uma sistematização própria, compilando na medida do possível todos os repertórios existentes, inseriu a sua experiência clínica após confrontação com a experimentação, e incluiu rubricas directamente extraídas das matérias médicas.

O Repertório de Kent, base de todos os contemporâneos, foi publicado em fascículos, com cerca de 75.000 rubricas e 540 medicamentos descritos, passando depois a 648.

Na sua perspectiva, “o Homem é prioritário aos órgãos”, e por tal motivo, os sintomas gerais têm uma valoração superior aos locais. O seu repertório estrutura-se nos princípios da lógica dedutiva, ou seja, do geral para o particular. Enquanto Kent particulariza os gerais, Boenninghausen generaliza os particulares, estando o repertório daquele organizado do geral para o particular e o deste do particular para o geral.

         É constituído por 37 capítulos:
           1 – Mente
           2 – Vertigem
           3 – Cabeça
           4 – Olhos
           5 – Visão
           6 – Ouvido
           7 – Audição
           8 – Nariz
           9 – Face
         10 – Boca
         11 – Dentes
         12 – Garganta
         13 – Garganta externa
         14 – Estômago
         15 – Abdómen
         16 – Recto
         17 – Fezes
         18 – Bexiga
         19 – Rins
         20 – Próstata
         21 – Uretra
         22 – Urina
         23 – Genitais Masculinos
         24 – Genitais Femininos
         25 – Laringe e Traqueia
         26 – Respiração
         27 – Tosse
         28 – Expectoração
         29 – Peito
         30 – Costas
         31 – Extremidades
         32 – Sono
         33 – Calafrio
         34 – Febre
         35 – Transpiração
         36 – Pele
         37 – Generalidades

        
No repertório, partindo dos gerais para os particulares, temos: lateralidade, horário, modalidades e irradiação, e a seguir a localização e as sensações.

Utilizou três graus de sintomas:

1º Grau – São os sintomas observados na totalidade ou na maioria dos experimentadores e que são observados com frequência nas curas clínicas.
Aparece em negrito, equivalendo a três pontos.

2º Grau – Sintomas observados em alguns experimentadores e verificados algumas vezes na clínica.
Aparece em itálico e vale dois pontos.

3º Grau – Sintomas obtidos através de um ou raros experimentadores, não observados em reexperimentações, sendo verificados na cura e pacientes e aceites como clínicos.
Aparece em romano e vale um ponto nos quadros repertoriais.

Fez uso das referências cruzadas – sinonímias e termos semelhantes – tal como Boenninghausen.

Kent explicou o seu próprio método de trabalho:
“Quando começo um caso, destaco todas as expressões que descrevem o estado geral do paciente, como as agravações e melhorias do seu estado geral ou de vários sintomas.
De seguida, considero diligentemente todos os anseios, quer físicos quer mentais, todos os desejos e aversões, repulsas, medos, pavores, etc.
Depois considero as perversões intelectuais, métodos de raciocínio, memória, causas de perturbações mentais, etc.
Organizo-os todos juntos, ordenadamente, com o objectivo de relacionar ao lado de cada um deles todos os remédios das rubricas correspondentes que encontramos no repertório.
Pelo processo do cancelamento, logo constataremos que poucos remédios cobrem todos os sintomas, e desta forma apenas alguns devem ser cuidadosamente comparados com o objectivo de determinar o remédio que entre todos aqueles é o que mais se assemelha aos sintomas particulares ainda não alinhados para a consideração que foi feita em relação aos primeiros”.

Método de trabalho de Kent, segundo Ariovaldo – Conhecendo o Repertório e Praticando a Repertorização, Editora Organon, pág. 67 –:
1º - Selecção hierárquica dos sintomas característicos:

  • Gerais – Agravações e melhorias do estado geral do paciente;
  • Vontade – Anseios físicos e mentais (desejos, aversões, medos...);
  • Intelecto – Perversões intelectuais, raciocínio, memória, etc.

2º - Cruzamento dos medicamentos correspondentes a cada rubrica, buscando os que cubram a totalidade sintomática (método de cancelamento ou de eliminação).
3º - Diferencial – Comparação com as rubricas correspondentes aos sintomas restantes (particulares).