Hahnemann escreveu no preambulo da sua Matéria Médica, que para um tratamento conveniente, após anotação dos medicamentos por cada sintoma apresentado pelo paciente, devemos ser capazes de distinguir aquele que cobre a maioria dos sintomas, especialmente os mais peculiares e característicos.
Seleccionada após comparação na Matéria Médica, deve ser a substância que mais semelhanças apresenta com a totalidade do quadro clínico que se nos depara.
Na falta do medicamento perfeito, deve ser ministrado o imperfeito, ou seja, aquele em que somente uma parte dos sintomas da doença sob tratamento é encontrada na descrição da patogenesia, mas que se afigura como o mais adequado entre todos os que se encontram em apreciação diferencial.
Sendo frequente, que a similitude não seja total, não se pode esperar que a cura seja total e isenta de perturbações. No decorrer do uso do simillimum imperfeito, poderão surgir sintomas acessórios não observados previamente na doença. De qualquer modo, isto não impede que parte da enfermidade não seja debelada pelo medicamento. Persistirão somente os sintomas não cobertos pelo medicamento e aqueles que surgiram acessoriamente assumirão um carácter moderado, sempre que a dose do medicamento não seja exagerada.
Caso surjam efeitos acessórios importantes durante a acção de um medicamento imperfeito, não se permitirá que a acção deste se extinga. Pelo contrário, proceder-se-á a nova repertorização, desta vez englobando o novo universo sintomático. Este processo é “vicioso” até que se complete a cura integral do enfermo.
Contrariamente à situação anterior, o simillimum perfeito, imitando a doença na íntegra, ministrado em dose adequada, removerá de forma radical a totalidade sintomática. É sempre necessário fazer um esforço no sentido de se encontrar o medicamento que produza artificialmente os sintomas ou a doença e que imite com a maior perfeição possível os do doente
Se o simillimum for encontrado, qualquer dose será suficiente para a cura, desde que inexistam barreiras diatésicas. Se estas existirem terão de ser cuidadosamente investigadas a fim de serem debeladas, nomeadamente por intermédio de antídotos e nosodos, sem que se olvide, como exaustivamente temos vindo a referir noutros artigos, as leis da similitude.
Hahnemann preconizava que em determinadas circunstâncias a utilização de medicamentos complementares é não só benéfica, como necessária para a obtenção de cura. Não defendia a utilização simultânea de medicamentos (§ 273 do Organon) e embora preconizasse a utilização alternada de substâncias não o fazia em número excessivo. Infelizmente, faz-se utilização abusiva da quantidade de medicamentos que se ministram a um paciente na tentativa de curar as suas enfermidades. Crê-se que o emprego concomitante de um grande número de medicamentos, aparentemente complementares, pode solucionar o quadro patológico com maior rapidez. Frequentemente, o que sucede é que pela adopção desta postura de pseudoceleridade, o homeopata incorre na inconsequência de empregar medicamentos antagónicos ou de não conseguir controlar a acção que cada um exerce no organismo do paciente. Deixa de saber quais os medicamentos que produzem sintomatologia acessória e o controlo da evolução da cura pode ser comprometida. Resta ainda o risco da iatrogenia. ( vide a este respeito o § 274 do Organon ).
Na dificuldade do simillimum perfeito ser encontrado, Hering enunciou uma regra segundo a qual são suficientes três sintomas bem indicativos, para que se estabeleça a escolha de um bom medicamento, como são suficientes três pés para que um banco esteja equilibrado.
Dito por outras palavras, se três características principais de um caso são identificadas num dado remédio, há um tripé sobre o qual a prescrição se pode apoiar com grandes possibilidades de sucesso.
A teoria de Hering tem um vasto campo de aplicação nos casos agudos e pressupõe que o homeopata isole os sintomas característicos em número de três, levando-os ao repertório, que confirmará o seu valor (grau 1).
Não podemos, na maior parte dos casos, esperar do medicamento homeopaticamente imperfeito uma cura integral, já que no decorrer do tratamento podem surgir sintomas acessórios – sintomas não previamente observáveis na doença que podem ser moderados, sempre que a dose do medicamento seja suficientemente diminuta (§ 163 do Organon) ou graves, impondo nesta última circunstância a reapreciação do caso (§ 167-168 do Organon) – de alguma monta, que implicam o traçado de um novo quadro da doença – acrescentando-se aos sintomas originais os recentemente surgidos – e a prescrição de um novo medicamento.
Aliás, sempre que ocorra mudança na doença, deve seleccionar-se um outro medicamento para combater os sintomas que restam ou que surgem após a acção do primeiro – § 170 do Organon. § 169 do Organon – “Na primeira avaliação de uma doença, verificamos por vezes que a totalidade dos sintomas não pode ser coberta eficientemente pelos elementos de doença de um medicamento só, mas que dois medicamentos podem completar-se e adequarem-se. Quando isso acontece e o mais adequado dos medicamentos for usado em primeiro lugar, não é prudente passar para o segundo sem reavaliar o paciente. O medicamento que fora considerado segunda opção poderá não ser adequado aos sintomas que restam após o uso do primeiro. Um outro remédio adequado deverá ser seleccionado para combater esse novo conjunto de sintomas observados no novo exame”.
Como já foi referido, por vezes, a prescrição do medicamento imperfeito despoleta o surgimento de novos sintomas ou revela sintomas antigos, levando o homeopata a uma reavaliação do caso e à prescrição do simillimum perfeito ou do medicamento mais adequado à situação do enfermo.
Não olvidemos que o estado mental deverá ser sempre utilizado para a selecção final do medicamento.
Note-se ainda, que os sintomas desaparecem pela ordem inversa da sua manifestação – se a doença se inicia com uma cefaleia, seguida por náuseas e vómitos e por fim febre, será este último sintoma o primeiro a desaparecer, depois as náuseas e vómitos e por fim, a cefaleia – e a aplicação do medicamento homeopaticamente correcto produz inevitavelmente uma imediata melhoria do estado psíquico.
Se durante o tratamento os sintomas físicos desaparecem, prevalecendo um estado mental alterado, haverá que desconfiar da escolha do medicamento e reavaliar o caso clínico.
Por último, uma pequena nota relativa ao Genius epidemicus, que é um recurso prático de prescrição. Efectivamente, numa epidemia, pode verificar-se que a totalidade ou quase totalidade dos sintomas são comuns a todos os doentes, o que pode legitimar o uso generalizado de um só medicamento.