PRINCÍPIO DA SIMILITUDE
Hipócrates, que nasceu em 468 a.C. e faleceu em 377 é considerado o pai da medicina ocidental, com duas correntes terapêuticas fundamentais: Contraria Contrariis Curantur e Similia Similibus Curantur.
Hahnemann, na sequência da experimentação de diversas substâncias – verbi gratia, Arsenicum Album, Belladonna – e após ter descoberto que a quina, que destrói a febre, a provoca no indivíduo são, concretizou o princípio normalmente referido como “Similia Similibus Curantur”, ou seja, os semelhantes são curados pelos semelhantes.
Os sintomas de uma determinada doença são curados pela substância altamente diluída – trata-se de uma diluição homeopática que retira a toxicidade ao medicamento, estimulando concomitantemente as capacidades reaccionais de autocura do organismo –, que produz num corpo são, sintomas artificiais semelhantes aos da doença, quando administrada em dose ponderal – dose forte mas não letal – ou experimental – Hahnemann preconizou também a utilização da trigésima potência centesimal –, e isto, desde que não estejamos perante um caso de incurabilidade ou de lesões absolutamente irreversíveis.
Toda a substância capaz de provocar determinados sintomas num indivíduo são, faz com que estes desapareçam num organismo doente.
Não se trata de combater a doença com a própria doença, mas com algo que se comporta da mesma forma que ela.
O simillimum representa sempre a esperança de cura do paciente e é o medicamento onde os sintomas totais apresentados pelo doente encontram correspondência na respectiva patogenesia ou conjunto de efeitos desencadeados por um remédio.
Este, pode denominar-se o simillimum perfeito.
Um exemplo:
António, apresentou-se a uma consulta homeopática queixando-se de acessos de asma, que começam por volta da meia noite e duram normalmente até às três horas da manhã.
Após interrogatório, manifestou ter um intenso medo da morte, principalmente quando está sozinho, que é mais evidente durante os acessos de asma e que agrava quase sempre entre a uma hora e as três horas da manhã. Tem medo de fantasmas, especialmente à noite, quando apaga a luz para dormir.
O seu estado psíquico sofre alterações bruscas: um dia está excitado e agitado, para no outro estar deprimido e melancólico. Estas modificações de humor surgem, por vezes, no mesmo dia.
Toma medicamentos que lhe foram receitados pelo seu médico de família, mas está convicto de que nunca o irão curar.
É um indivíduo magro, de face marcadamente angulosa e pálida.
Este é nitidamente um tipo Arsenicum Album, de similitude perfeita – veja-se o artigo referente ao medicamento Arsenicum Album –.
Por vezes – para sermos mais precisos, a maior parte das vezes –, apenas uma parte do quadro sintomático é encontrada na lista de sintomas do remédio mais adequado disponível na Matéria Médica.
Beto tem sensações corporais estranhas. Por vezes sente-se desmaiar, o que faz com que se levante da cama ou da cadeira onde está sentado para caminhar. Sente palpitações intensas, que o levam a pensar que está à beira de um ataque cardíaco, facto que também o faz movimentar atabalhoadamente.
Fica apreensivo quando tem uma entrevista ou tem de participar em qualquer evento que o afaste de casa e do seu círculo de acção normal. Em determinadas alturas tem medo da morte e pensa que vai morrer. Chega mesmo a predizer o dia em que isso vai acontecer.
Tem medo de andar sozinho, de sair de casa, de multidões.
Tremores da língua e das pernas e dores de cabeça terríveis, sempre que trabalha mais intensamente. Fica aliviado quando a amarra fortemente com um pano.
A maioria dos sintomas pertence ao quadro de Gelsemium, mas estão presentes outros, nomeadamente, de Argentum Nitricum e Aconitum Napellus.
Segundo Hahnemann, este medicamento imperfeito ou simillimum possível, deverá ser utilizado na falta de um mais perfeito, sem prejuízo de posterior reavaliação do caso clínico.
A experiência demonstra que se a lei da similitude não for respeitada, os medicamentos homeopáticos são praticamente ineficazes.
A doutrina hahnemanniana é unicista, porquanto é utilizado um único remédio para a obtenção da cura, contrariamente ao que acontece com o pluralismo – a Escola Pluralista, também conhecida por Escola Francesa, utiliza vários medicamentos simultaneamente ou em intervalos de tomas – e com o complexismo – a Escola Complexista ou Escola Alemã, utiliza em regra, os complexos, constituídos por vários medicamentos combinados na mesma solução excipiente –.
Um terapeuta pluralista, no caso de Beto, poderia receitar os três medicamentos: Gelsemium, Argentum Nitricum e Aconitum. Já um complexista, optaria por vários medicamentos complexos – para a prática do complexismo é de extrema importância o conhecimento do “Ordinatio Antihomotoxica et Materia Medica”, dos Laboratórios Heel, Alemanha, existindo uma versão espanhola –.
Na perspectiva do unicismo não existem remédios equivalentes e portanto, não existem substitutos. Por outro lado, o homeopata não deve misturá-los, deixando à sorte a determinação do efeito a ser produzido no paciente.
Para que se possam conhecer os efeitos dos medicamentos, impõe-se que só seja receitado um de cada vez. Só assim se poderá avaliar a reacção do doente ao medicamento. Caso se efectue a prescrição de uma maior quantidade de remédios, à avaliação dos efeitos produzidos no paciente acresce a dificuldade de determinar qual dos medicamentos homeopáticos está a produzir um efeito real e benéfico no enfermo. Com os complexos homeopáticos a prescrição simplifica-se, pelo facto de os medicamentos serem estudados – alguns já se encontram patenteados acerca de 50 anos – para patologias específicas. Pecam por se reportarem às patologias num quadro teórico transportado e adaptado aos princípios da Medicina Ortodoxa, violentando o princípio fundamental de que em homeopatia não há doenças, mas tão somente doentes.
O Repertório Homeopático, utilizado conjuntamente com a Matéria Médica Homeopática assistirá o homeopata na busca da substância cuja patogenesia se identifique mais com o quadro sintomático do paciente.
Carlos tem uma pele muito seca e doentia. Estão constantemente a surgir erupções escamosas, em vários locais do corpo. Tem prurido, que agrava com o calor do leito.
É um idealista, cheio de teorias filosóficas, que julga inabaláveis.
Não gosta de tomar banho e quando o faz os seus padecimentos são agravados.
Tem diarreia, por volta das 5 horas da manhã, o que o obriga a ir urgentemente à casa de banho.
Utilizando o Repertório Homeopático Digital de Ariovaldo Ribeiro Filho, destacamos os seguintes sintomas – este procedimento só será entendido pelo leitor, quando se consagre ao estudo do Repertório e da Repertorização – :
1 – MENTAL – FILOSOFIA – devaneios filosóficos, grande inclinação a
2 – MENTAL – LAVAR – aversão a lavar-se
3 – RETO – DIARREIA – manhã – 5 h
4 – PELE – ERUPÇÕES - ESCAMOSAS
5 – PELE – PRURIDO – aquecer-se – cama, na
6 – PELE – SECA
7 – GENERALIDADES – BANHAR-SE, lavar-se –agr.
Os 12 primeiros resultados por cobertura foram:
1 – sulph.; 2 – phos.; 3 – calc.; 4 – rhus-t.; 5 – sep.; 6 – clem.; 7 – psor.; 8 – ant-c.; 9 – mez.; 10 – merc.; 11 – kali-c.; 12 – nat-m.
( Nos Repertórios Homeopáticos os medicamentos vêm citados por abreviaturas, devidamente identificadas nos inícios das obras ).
Comparando os resultados com a Matéria Médica, chegamos à conclusão de que o simillimum é Sulfur – estamos novamente perante uma similitude perfeita –. Repertório e Matéria Médica complementam-se na pesquisa do medicamento curador.
O simillimum tem um poder de cura quase extraordinário e podemos verificar que o doente lhe é extremamente sensível. Quanto mais perfeita for a similitude, como consequência da escolha criteriosa do medicamento, mais susceptível será o doente aos seus poderes curativos.
PRINCÍPIO DA GLOBALIDADE
A Homeopatia encara o ser humano duma forma global e este é estudado na sua totalidade.
O homem é considerado em todas as suas vertentes. Ele é o medo, a tristeza, a ansiedade, a excitação sexual, a ausência de libido, a astenia e a fadiga, as relações laborais, familiares, sociais, os distúrbios de memória, cognitivos, o sono reparador ou não, a insónia, os sonhos, sensações, ilusões e delírios, a sede e o apetite, as febres, dores de cabeça, estômago, as lesões orgânicas, os transtornos funcionais, os transtornos e traumas recentes e/ou passados. Estes exemplos ambientam-nos na globalidade do nosso ser e consciencializam-nos para o facto de ser esta a totalidade que reage às agressões interiores ou externas. Encará-la como mera acumulação de partes isoladas é uma fuga à realidade com o intuito de facilitar a actividade terapêutica já que o equilíbrio do sistema orgânico integral resulta da interacção entre os vários subsistemas. É também em função dessa totalidade, que é prescrito o simillimum.
Em homeopatia não há doenças, só há doentes. Por isso, Hahnemann considerava uma verdadeira “heresia” afirmar que damos determinado remédio nesta ou naquela patologia, como a Ipeca ou a Drosera para a tosse, a Ignatia para a distonia neurovegetativa e Lachesis para os distúrbios da menopausa. O que se cura é o paciente com tosse, com distonia neurovegetativa e com distúrbios menopáusicos e não a designação da doença. Praticar a homeopatia nesta última formulação é confundi-la por identificação de métodos, com a medicina alopática. Actualmente, pelo menos em território Europeu, tende-se à utilização da homeopatia mediante os princípios da Medicina Ortodoxa. É inelutável, que o contributo da prática médica ortodoxa é de um valor inestimável para a homeopatia, embora não seja fundamental, mas o transporte ou impregnação do corpo teórico da Homeopatia pelo da Medicina Ortodoxa só faz com que se passe a ver a doença em detrimento do doente. O complexismo é utilizado maioritariamente de acordo com as patologias tal como são conhecidas na Medicina Ortodoxa. Tal facto, embora não possa permitir que a escolha do medicamento, por muito criteriosa que seja, determine a perfeita cura do paciente – só quando se escolhe o medicamento visando o doente e não a doença é que se pode ter maior certeza de promover a cura e o restabelecimento do enfermo –, permite uma rápida actuação no quadro sintomático imediato, facultando alívios que propiciam no tempo, a ulterior pesquisa do simillimum. Mas é de não esquecer, que embora a utilização dos complexos homeopáticos possa ser aliciante pelo pragmatismo e rapidez de prescrição, o que se cura, ou tende a curar, é o doente e não a doença.
Considerando o homem no seu centro, digamos impropriamente, na sua essência, nos chamados sintomas da imaginação – que englobam as sensações, sonhos, ilusões e delírios –, biopatográficos ou etiológicos – envolvem os transtornos causados por acontecimentos, traumáticos ou não –, mentais – medo, depressão, ansiedade, astenia, agitação, inquietude, memória, cognição, capacidade de valoração dos factos, inteligência, entre outros –e gerais – sede, apetite, transpiração, sono, fezes, urina, etc. – pode ocorrer que o medicamento escolhido não tenha presente na sua patogenesia os sintomas locais – quisto no ovário esquerdo ou úlcera gástrica –. Caso isto suceda, não constitui um óbice à aplicação do medicamento, visto que o remédio que cura o doente faculta o desaparecimento dos sinais e sintomas particulares.
O organismo funcionando como um todo, pela acção do simillimum, perfeito ou imperfeito, restabelece o seu próprio equilíbrio, caminhando pela vereda da saúde.
PRINCÍPIO DA INFINITESIMALIDADE
A infinitesimalidade é um corolário directo e imediato da similitude.
Os medicamentos homeopáticos são essencialmente utilizados em doses de altas diluições, por duas razões fundamentais:
Hahnemann, para além de submeter as substâncias medicamentosas a sucessivas diluições, dinamizou-as por intermédio de uma agitação vigorosa e rítmica.
As principais doses altamente diluídas, são as decimais, centesimais e cinquenta milesimais. De referir ainda as Korsakovianas, que podem atingir o valor de 100.000 – 100.000 K –.
Para a realização das sucessivas dinamizações, o prático ou o farmacêutico deve dispor de frascos novos, previamente lavados com água e secos posteriormente.
Tratando-se de tintura mãe ou substância líquida, coloca-se no primeiro frasco uma parte em peso daquela, completando-a com 99 partes de um veículo apropriado – água bidestilada e álcool a 38 ou 40º -, agitando-se vigorosamente cem vezes. Esta diluição, seguida de dinamização, constitui a primeira centesimal (1ª CH).
Desta 1ª centesimal, deita-se 1 ml num outro frasco com 99 ml de excipiente. Agita-se igualmente 100 vezes e obtém-se a 2ª centesimal (2ª CH).
Este processo repete-se sucessivamente quantas vezes forem necessárias para produzir a potência desejada.
As decimais são obtidas pelo mesmo processo só que numa relação de 1/10.
No que às triturações respeita, a substância sólida é previamente reduzida a pó e triturada num almofariz, juntando-se-lhe lactose. A proporção das substâncias é calculada para que se obtenha uma 1ª centesimal ou decimal. A trituração é executada pelo menos durante vinte minutos. Para obter a 2ª centesimal ou decimal, junta-se uma parte do triturado com 99 ou 9 partes de lactose e procede-se a nova trituração. O mesmo, para a obtenção da 3ª centesimal.
De seguida, passa-se ao meio líquido, procedendo-se como atrás se mencionou, já que todos os produtos são solúveis a partir da 4ª centesimal.
O remédio homeopático é o resultado de um produto inicial submetido a diluições sucessivas, acompanhadas simultaneamente de agitação e ritmo – este processo denomina-se dinamização ou sucussão –.
No princípio das suas experimentações, Hahnemann começou por diluir as substâncias em álcool ou água, utilizando diversas proporções. No entanto, apercebeu-se que os resultados ficavam longe das suas expectativas. Daí imprimiu-lhes uma agitação violenta, que denominou sucussão. Assim, às sucessivas diluições, intercalou agitações rítmicas e vigorosas, que replicaram a informação original do medicamento, potenciando a sua eficácia curativa.