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Relações Clínicas dos Medicamentos

Na matéria médica existem muitos medicamentos incompatíveis, ou seja, que ministrados antes ou após um do outro, destroem os seus efeitos, por via de acção contrária. A validade desta regra depende do facto do primeiro remédio administrado ter tido alguma influência no caso.
                                                                      
Os remédios são complementares quando a sua acção é idêntica relativamente à sintomatologia do quadro clínico, quando agem no mesmo sentido, terminando o trabalho começado por um outro remédio.

Os que seguem bem outro, suprem as deficiências deste primeiro, podendo mesmo antidotar alguns dos seus efeitos perversos.
Se um medicamento deixar de fazer efeito, devemos procurar o que lhe sucede com êxito. No Dictionary of Practical Matéria Medica de John Henry Clarke, encontramos na maior parte das substâncias descritas um item denominado “Relations” – Relações Clínicas –, donde constam nomeadamente:

  1. Comparação entre medicamentos.
  2. Antídotos.
  3. Remédios aos quais a substância segue bem.
  4. Remédios que seguem bem à substância.
  5. Similares ou compatíveis.
  6. Incompatíveis.

Os antídotos são essenciais em homeopatia e destroem os maus efeitos do remédio ministrado, na maior parte das vezes por prescrição incorrecta. Antidotam os efeitos químicos no decurso de “envenenamentos” ou os efeitos indesejáveis ocasionados pelo emprego da droga.

Há ainda medicamentos, que exigem um cuidado especial na sua prescrição.

A terceira parte do nosso livro “Homeopatia Essencial”, analisa exaustivamente as Relações Clínicas dos principais medicamentos, bem como todos os cuidados de prescrição.
Não é possível exercer homeopatia sem que se tenham em consideração e presentes em cada prescrição, para além de todas as regras e procedimentos já anteriormente enunciados, os dados constantes desta terceira parte, sob pena de eventuais erros graves, múltiplas vezes ocultos, mas que se repercutem fatalmente no paciente.
Damos a seguir alguns exemplos:

ACONITUM NAPELLUS

COMPLEMENTARES – Arnica, Coffea., Sulfur.
REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Abrotanum, Arnica, Arsenicum, Belladonna, Bryonia, Cactus, Calcarea, Cocculus, Cantharis, Coffea, Hepar, Ipeca, Kalium bromatum, Mercurius, Pulsatilla, Rhus toxicodendron, Sepia, Spigelia, Spongia, Sulfur, Silicea.
ANTÍDOTOS – Aceticum acidum, Belladonna, Berberis, Coffea, Nux vomica, Paris quadrifolia, Sulfur, Vinum.
DURAÇÃO DE ACÇÃO – (8, 10, 24, 48 horas nos casos agudos).
PRECAUÇÕES – Nas fases agudas deve ser prescrito em intervalos de tempo breves.
Na febre, devem evitar-se todo o tipo de bebidas para além da água, de forma a não destruir o efeito do remédio.

ARGENTUM NITRICUM

REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Bryonia, Calcarea, Kalium carbonicum, Lycopodium, Mercurius, Pulsatilla, Sepia, Spigelia, Spongia, Silicea, Veratrum album.
ANTÍDOTOS – Arsenicum, Calcarea, Lycopodium, Natrum muriaticum, Mercurius, Phosphorus, Pulsatilla, Rhus toxicodendron, Sepia, Silicea, Sulfur.
DURAÇÃO DE ACÇÃO – 30 dias.
PRECAUÇÕES – O uso continuado e habitual de Argentum Nitricum pode fazer surgir os sintomas inerentes à sua patogenesia.
Natrum Muriaticum faz cessar o emagrecimento do paciente Argentum provocado por doses excessivas, altas diluições ou derivado de efeitos patogenésicos.

CAMPHORA

COMPLEMENTARES – Cantharis.
REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Arsenicum, Antimonium tartaricum, Belladonna, Cocculus, Nux vomica, Rhus toxicodendron, Veratrum album.
INCOMPATÍVEIS – Kalium arsenicosum não deve preceder Camphora.
ANTÍDOTOS – Cantharis, Dulcamara, Opium, Phosphorus.
DURAÇÃO DE ACÇÃO – 1 dia. (Alguns minutos).
PRECAUÇÕES – É antídoto praticamente para todos os remédios.

HEPAR SULFUR

COMPLEMENTARES – Calendula.
REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Abrotanum, Aconitum, Arum triphyllum, Belladonna, Bryonia, Calendula, Iodum, Lachesis, Mercurius, Nitricum acidum, Nux vomica, Rhus toxicodendron, Sepia, Spongia, Silicea, Sulfur.
ANTÍDOTOS – Aceticum acidum, Arsenicum, Belladonna, Chamomilla, Silicea.
DURAÇÃO DE ACÇÃO – De 40 a 50 dias. (60 dias nas diluições mais altas e nos casos crónicos).
PRECAUÇÕES – O uso de Hepar conduz a precauções várias: 4 CH faz supurar por mais tempo; 5 CH e 7 CH têm acções opostas, segundo o estado evolutivo; 9 CH e mais, impedem a evolução do processo supurativo e podem fazê-lo regredir, caso esteja em tempo ou não estando verificaremos um agravamento.

LYCOPODIUM

COMPLEMENTARES – Iodum, Lachesis, Pulsatilla.
REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Anacardium, Belladonna, Bryonia, Carbo vegetabilis, Colchicum, Dulcamara, Graphites, Hyosciamus, Kalium carbonicum, Lachesis, Ledum, Nux vomica, Phosphorus, Pulsatilla, Sepia, Silicea, Stramonium, Veratrum.
INCOMPATÍVEIS – Depois de Sulfur, excepto na sucessão clássica: Sulf.-Calc. Lyc.-Sulf., e Coff.
ANTÍDOTOS – Aconitum, Camphora, Causticum, Chamomilla, Graphites, Pulsatilla.
DURAÇÃO DE ACÇÃO – De 40 a 50 dias.
PRECAUÇÕES – As altas diluições prescritas de forma improvisada agravam.
Não é aconselhável iniciar o tratamento de um estado crónico por Lycopodium, já que a sua acção pode produzir perturbações graves e duradouras caso as funções hepáticas e renais não estejam devidamente estimuladas. No caso de agravação devida à grande liberação de toxinas, China é em geral o medicamento indicado para a suster.

MEDORRHINUM

REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Sulfur, Thuya.
ANTÍDOTOS – Ipeca.
PRECAUÇÕES – Como todos os bioterápicos deve ser prescrito em função da sua patogenesia e dos sintomas apresentados pelo paciente, podendo e devendo tomar-se em consideração os eventuais antecedentes blenorrágicos.

NUX VOMICA

COMPLEMENTARES – Kalium carbonicum, Sepia, Sulfur.
REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Aesculus, Actae spicata, Aranea, Arsenicum, Belladonna, Bryonia, Cactus, Calcarea, Carbo vegetabilis, Cobaltum, Cocculus, Colchicum, Hyosciamus, Lycopodium, Phosphorus, Phosphoricum acidum, Pulsatilla, Rhus toxicodendron, Sepia, Sulfur.   
INCOMPATÍVEIS – Aceticum acidum, Ignatia, Zincum.
ANTÍDOTOS – Aconitum, Arsenicum, Belladonna, Camphora, Cocculus, Coffea, Euphrasia, Opium, Pulsatilla, Thuya.
DURAÇÃO DE ACÇÃO – De 1 a 7 dias.
Uma alta diluição de Nux Vomica pode ser necessária no início do tratamento com o fim de desintoxicar o paciente.

PHOSPHURUS

COMPLEMENTARES – Arsenicum, Allium cepa, Carbo vegetabilis.
REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Arsenicum, Belladonna, Bryonia, Calcarea, Carbo vegetabilis, China, Kalium carbonicum, Lycopodium, Nux vomica, Pulsatilla, Rhus toxicodendron, Sepia, Silicea, Sulfur.
INCOMPATÍVEIS – Causticum.
ANTÍDOTOS – Calcarea, Coffea, Mezereum, Nux vomica, Sepia.
DURAÇÃO DE ACÇÃO – 40 dias. (Até 5 dias no agudo e 50 dias nos casos crónicos).
PRECAUÇÕES – Nos casos de tuberculose, Phosphorus não deve ser ministrado em diluição inferior à 30ª CH e não deve ser repetido antes que tenham decorrido pelo menos trinta dias após ingestão da dose.

SEPIA

COMPLEMENTARES – Nux vomica, Natrum muriaticum, Sabadilla.
REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Belladonna, Calcarea, Carbo vegetabilis, Conium, Dulcamara, Euphrasia, Graphites, Lycopodium, Natrum carbonicum, Nux vomica, Petroleum, Pulsatilla, Rhus toxicodendron, Sarsaparilla, Silicea, Sulfur, Tarentula.
INCOMPATÍVEIS – Bryonia, Lachesis.
ANTÍDOTOS – Aconitum, Antimonium crudum, Antimonium tartaricum, Nitro spiritus dulcis, Sulfur, vegetais e ácidos.
DURAÇÃO DE ACÇÃO – De 40 a 50 dias.

SILICEA

COMPLEMENTARES – Calcarea, Fluoricum acidum, Pulsatilla, Sanicula, Thuya.
REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Aranea, Arsenicum, Asa foetida, Belladonna, Calcarea, Clematis, Fluoricum acidum, Graphites, Hepar sulfur, Lachesis, Lycopodium, Nux vomica, Phosphorus, Pulsatilla, Rhus toxicodendron, Sepia, Sulfur, Tuberculinum, Thuya.
INCOMPATÍVEIS – Mercurius.
ANTÍDOTOS – Camphora, Fluoricum acidum, Hepar sulfur.
DURAÇÃO DE ACÇÃO – De 40 a 60 dias.
PRECAUÇÕES – Em Silicea, todos os corpos estranhos incluídos no corpo acabam por ser expulsos com uma supuração, que se torna necessário controlar.
Um foco tuberculoso, mesmo antigo e calcificado, pode como em Phosphorus ser reactivado.

SULFUR

COMPLEMENTARES – Aconitum, Aloe, Arsenicum, Badiaga, Nux vomica, Psorinum.
REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Aconitum, Aesculus, Alumina, Apis, Arsenicum, Belladonna, Baryta carbonica, Berberis, Borax, Bryonia, Calcarea, Carbo vegetabilis, Euphrasia, Graphites, Guaiacum, Kalium carbonicum, Mercurius, Nitricum acidum, Nux vomica, Phosphorus, Podophyllum, Pulsatilla, Rhus toxicodendron, Sambucus, Sarsaparilla, Sepia.
INCOMPATÍVEIS – Sulf. segue bem Lyc., mas Lyc. não deve seguir Sulf.
 Ranunculus bulbosus.
ANTÍDOTOS – Aconitum, Arsenicum, Camphora, Causticum, Chamomilla, China, Conium, Nux vomica, Mercurius, Pulsatilla, Rhus toxicodendron, Sepia, Silicea.
DURAÇÃO DE ACÇÃO – De 40 a 60 dias.
PRECAUÇÕES – A prescrição de Sulfur deve ser prudente face às previsíveis crises de eliminação, eczemas, agravações curtas mas importantes. Há que atender às diluições e frequência de repetição de doses inadequadas.
Há casos, em que sendo Sulfur o medicamento indicado, se justifica devido ao temor de eliminações violentas, o uso de Sulfur Iodatum. Estas eliminações podem provocar em especial no paciente tuberculínico um rápido e acentuado emagrecimento.

TUBERCULINUM

COMPLEMENTARES – Belladonna, Calcarea, Hydrastis, Psorinum, Sulfur.
REMÉDIOS QUE SEGUEM BEM – Baryta carbonica, Calcarea, Calcarea phosphorica, Silicea.
PRECAUÇÕES – Tuberculinum não é um remédio da tuberculose. O seu mau uso comporta riscos de reactivação como Phosphorus e Silicea.