Os sintomas expressam as tentativas do organismo em se curar a si próprio.
Em homeopatia há que distinguir os inerentes à própria doença, dos sinais ou condições que pertencem caracteristicamente ao doente enquanto indivíduo.
Pode acontecer, que um determinado medicamento cubra todos os sinais e sintomas da doença – tendo em vista que a matéria médica homeopática é acima de tudo um registo de sintomas –, e aquele não seja o escolhido como simillimum, perante a falta de correspondência com as condições gerais do paciente. Se um doente apresenta todos os sintomas mais característicos de Arsenicum Album – v.g., medo da morte com agitação e exaustão, agravamento periódico dos sintomas, dores sentidas com sensação de queimação, agravamento nocturno por volta da meia-noite – e os sintomas da doença aguda estão delimitados num outro medicamento, pode ser aquele e não este a ser prescrito.
Em homeopatia não existem doenças, só doentes. Não é o reumatismo, a depressão, a ansiedade, a artrite ou a enxaqueca que são curados, embora se vise a supressão da sintomatologia associada à patologia de que se padece. Cura-se sim, o paciente que sofre de artrite, reumatismo ou enxaqueca. Hahnemann terá respondido certa vez a um paciente que o inquiriu sobre a sua doença e prescrição homeopática: “O nome da sua doença não é problema meu, e o nome do medicamento que lhe dou não é problema seu”.
Nesta perspectiva, os sintomas característicos do paciente são mais importantes que os sintomas e sinais da doença – denominados patognomónicos –.
O que caracteriza no essencial um indivíduo são as suas características mentais, aversões e desejos, comportamento e reacção aos elementos naturais.
Hahnemann, percebeu que os sintomas importantes são os característicos, peculiares, raros, raríssimos, repetitivos e inexplicáveis. Incluem-se ainda os sintomas mentais – que também podem ser categorizados mediante as premissas acima referenciadas –, que deverão ser sempre utilizados para a selecção final do medicamento.
Os sintomas que nos devem guiar na escolha criteriosa do simillimum, são os individualizantes do doente, que devem ter correspondência na patogenesia do medicamento.
Alguns homeopatas quando constatam num paciente a existência de um sintoma raríssimo, procedem sem mais à prescrição desse medicamento. No entanto, tal procedimento é contrário aos princípios da doutrina homeopática. A função do Keynote deve ser meramente indicativa e auxiliar do diagnóstico diferencial.
São estes os sintomas que o homeopata deve investigar escrupulosamente no paciente – Clarke afirmava que se um paciente lhe dissesse “Há uma coisa que não sei se lhe devo contar, doutor”, não descansava enquanto este não lhe contasse de que realmente tratava a tal “coisa” (Receituário Homeopático, Editorial Martins Fontes, pág. 68) –. Pesquisava assim, os sintomas mais peculiares e absurdos e que quando presentes, são determinantes para a escolha do medicamento, claro está, com sujeição prévia a uma hierarquização.
Alguns sintomas são mais importantes que outros e devem ser valorizados, quer em sede de repertorização, quer de prescrição. A hierarquização que atribuímos aos sintomas relevantes – apreciaremos infra a matéria respeitante à valorização dos sintomas – pode traduzir-se no esquema seguinte:
Nota: Os sintomas pertencentes ao grupo II deverão ser sempre que possível bem modalizados. Este grupo, aonde for aplicável, pressupõe a inspecção ou exame físico, levado a cabo pelo homeopata.
A prescrição sobre a totalidade dos sintomas, não corresponde à prescrição sobre todos os sintomas. É essencial isolar o maior número possível de individualizantes, que nos conduzam ao simillimum.
Pode dizer-se em síntese, que os sintomas característicos, peculiares, raros e estranhos ou absurdos, são os que definem o paciente e os que em regra mais atraem a nossa atenção, podendo conduzir ao esclarecimento por via diferencial, do resultado obtido por via do estabelecimento da Síndrome Mínima de Valor Máximo. Esta é constituída por 3 a 5 sintomas caracterizadores da individualidade do paciente, inscritos em rubricas com um número médio de medicamentos – rubricas que não tenham muitos nem poucos medicamentos inscritos –, conforme veremos mais detalhadamente no artigo referente à Repertorização.
Alguns autores, nomeadamente Séror, consideram um bom sintoma ou sinal o que pode ser encontrado num organismo vivo, mas não num cadáver: uma úlcera ou fractura é visível num ser desprovido de vida, mas o medo da morte ou da multidão, não. Os primeiros são de importância secundária, enquanto que os segundos assinalam a manifestação da vida através da matéria. Por outro lado, um sintoma explicável é um mau sintoma: uma criança que tem aversão a doces porquanto produtores de enormes dores dentárias. Um sintoma inexplicável, como desfazer-se em lágrimas sem saber porquê, é manifestamente um bom sintoma. Na mesma hierarquia devemos colocar os inconscientes, v.g., as múltiplas manifestações do sono.
Os sintomas mais comuns e indefinidos, tais como tristeza, ansiedade, medo, perda de apetite, sono agitado, desconforto, cefaleias, não merecem em especial a nossa atenção, porque são observados em quase todas as doenças e elencam o quadro sintomático de grande número de medicamentos.
Os sintomas gerais, que respeitam ao corpo na sua integralidade, têm um valor superior aos locais. Um só sintoma geral, bem marcante, é mais importante que o conjunto de locais ou particulares.
Quando o doente fala na primeira pessoa do singular, podemos estar quase certos que se refere a um sintoma geral: eu tenho frio; eu tenho sede.
Por outro lado, a importância dos sintomas mentais não pode ser descurada. Os mais importantes são os que manifestam a vontade e a afectividade do paciente. Depois, vêm os relativos à inteligência, seguidos pelos atinentes à memória.
Há sempre que reconhecer quais os sintomas comuns à doença e os que são característicos do doente, estes sim de vital importância.